A nossa ideia de um roteiro de 5 dias na Islândia começou no final de julho de 2017. Foi bem no meio do verão, quando Munique é tomada pela brisa fresca, festivais de arte acontecem por todo canto e novos surfistas pipocam no Eisbach… Bem, foi na melhor época para viver na Baviera que o namorado decidiu que queria passar o aniversário viajando. As nossas opções eram Grécia, Itália e Islândia. Queríamos verão e também não queríamos gastar muito.
Contrariando a lógica, a escolhida foi a Islândia. É que a terra do fogo e do gelo era o nosso único destino novo de verdade. A Islândia é uma bela combinação de vulcões, cachoeiras, encontro de placas tectônicas, gêiseres, hot springs, glaciares, lagos de gelos, além de focas e ovelhas. Belo e pacato, o país tem algumas das paisagens mais maravilhosas desse planeta. Acabamos optando por um roteiro de 5 dias na Islândia. E, apesar de ser um destino de viagem caro…
Bem, todo perrengue vale a pena quando a alma não é pequena. :)
Uma lenda: assim surgiu a Islândia
Diz a lenda que a Islândia começou a ser povoada por um casal de vikings noruegueses na Idade Média. Os vikings também levaram mulheres celtas como escravas. Ali, essa gente criou o termo huldufólk, que significa “povo escondido”, para explicar criaturas como elfos, duendes, gnomos e trolls, que vivem nas terras islandesas – e muita gente acredita na existência ainda hoje.
Coloque em um recipiente a cultura viking, um pouco da cultura celta e misture com paisagens de tirar o fôlego. Pronto, você terá ideia de como é a Islândia! Para nós, foi a melhor decisão de todas.
Resultado: uma viagem de carro pelo sul da Islândia em cinco dias. Com pouco planejamento e muita emoção. Com calorzinho no coração. Eu me apaixonei pela Islândia, gente.
Então aperta play em Lakehouse de Of Monsters and Men e vai.
Hora de seguir viagem…
Saindo de Munique: como é voar de Air Berlin?
Saímos de Munique em uma quinta-feira, às 21h-e-alguma-coisa. O vôo durou quase 4 horas. Voamos de Air Berlin – essa mesmo que decretou falência na mesma semana que voltamos de viagem. Chegamos no começo da madrugada.
Eu levei minha mochila de 60 litros como mala de mão, o namorado levou uma mochila de 30 litros. Compramos uma franquia para bagagem despachada e nela levamos todo o aparato para camping + comidas + tripé da máquina (que não foi usado #shame).
O vôo foi um sofrimento, confesso. Comida de avião é ruim? É. Mas na minha opinião é a parte mais empolgante. É o auge, quando o vôo todo se anima. Barulhos de mesinhas, pessoas acordam do sono leve. Altas expectativas. Baixas expectativas. Virá um curry de frango com tabule de saladinha (sempre misturas estranhas) mais um cupcake de chocolate de sobremesa? Quem sabe. Uma coisa é fato: carne vermelha é sempre a pior opção.
Mas por ser um voo doméstico (a Islândia faz parte de Schengen) e a Air Berlin uma low cost (oi? a passagem custou cerca de 300 euros!), nada de snacks. Nada de televisãozinha. Nada de nada.
Um chocolate em forma de coração no final da viagem e só.
Enfim, a terra dos elfos: Islândia!
Aterrissamos no Aeroporto Internacional de Kéflavik e o caos estava instalado – talvez porque era véspera de feriado, talvez porque era alta temporada. Lotado, o aeroporto mais parecia a rodoviária do Rio de Janeiro em sexta-feira de Carnaval (#saudadesterrinha). A mala demorou pouco mais de 30 minutos para aparecer na esteira. Muita gente reclamando, alguns seres humanos dando barraco.
Muitos alemães (quase 50% dos vôos que chegavam no aeroporto saíam da Alemanha! eita povo com wanderlust na veia), alguns italianos, alguns espanhóis e muitos americanos em conexão de qualquer país da Europa continental > Islândia > Estados Unidos. Pegamos um ônibus da Reykjavik Excursions até a rodoviária da cidade e caminhamos até a nossa guest house para descansar e nos prepararmos para o dia que viria.
Talvez a Islândia ainda precise de alguns ajustes quanto à estrutura de turismo. Visivelmente, o país não tem capacidade para receber o grande número de turistas que cresce todo ano.
O mundo inteiro em uma só ilha
Um dado que vale a pena saber: a Islândia recebe cinco vezes mais turistas por ano que o número de habitantes. São cerca de 330 mil habitantes no país (1/3 mora em Reykjavik) e mais de 1,7 milhão de turistas. Então basicamente funciona assim: não importa para onde você vá, só terão turistas. Inclusive, os “locais” que eu conheci eram turistas (quer dizer, fotógrafos que se mudaram para a ilha e vivem a doce, intelectualmente estimulante e aventureira vida islandesa).
Também é preocupante o impacto que o turismo tem nas paisagens da Islândia. As trilhas devem ser respeitadas porque a vegetação demora décadas para se recuperar. Ali, a natureza apesar de avassaladora é extremamente sensível. E esse é um dilema que o país que tem economia voltada para o turismo sofre todos os dias.
Falando nisso, essa história de a Islândia ser um parque de diversões para os turistas pode soar muitas vezes artificial, quer ver?
Islândia: pratos típicos e iguarias
Vamos analisar agora os pratos típicos islandeses. O mundialmente famoso tubarão fermentado, o steak de baleia e a cabeça de ovelha são iguarias que a maior parte da população islandesa não consome no dia a dia. Bem, eram pratos consumidos antigamente… Mas hoje são apenas coisa-para-turista-ver-e-experimentar em restaurantes lotados por, veja só, turistas. Tipo restaurantes de pasta em Veneza. É italiano, mas não tão italiano assim.
No entanto, a cultura do fish and chips, do cachorro-quente com cebolas crocantes (conhecidos como pylsur), dos cafés incríveis e dos hambúrgueres ao ponto reina nessa terra. Afinal, a Islândia é o berço da cultura hipster! É o lugar onde as pessoas passam a noite de Natal lendo livros. Então melhor deixar a gastronomia para lá e aproveitar as paisagens e a música boa que esse país lindo tem para oferecer.
Roteiro de 5 dias na Islândia
Dia 1: o belo vulcão Eyjafjallajökull
Pela manhã, voltamos à rodoviária e pegamos um ônibus rumo a Thórsmörk (o Vale de Thor, em islandês), montanha situada entre os glaciares Tindfjallajökull e Eyjafjallajökull e um dos principais destinos para trekking da Islândia. Ali, carros comuns não tem acesso – apenas alguns poucos 4×4 e ônibus customizados. Isso porque há uma série de rios que só veículos anfíbios são capazes de atravessar.
Durante as quatro horas de viagem o ônibus parou em alguns pontos turísticos, como a encantadora Seljalandsfoss. Enfim, estávamos nas Volcano Huts, aos pés do vulcão Eyjafjallajökull, que em 2010 parou muitos aeroportos na Europa ao entrar em erupção. Montamos a barraca, partimos rumo à trilha e nos deleitamos com as paisagens incríveis de cada trecho.
+ Dica extra: se você está planejando uma viagem para a ilha, o pessoal do Ligado em Viagem escreveu sobre 5 cachoeiras lindas da Islândia para incluir no roteiro.
Em islandês, o nome Eyjafjallajökull significa “ilha com geleira e vulcão”.
Na trilha, encontramos uma charmosa casa de turfa islandesa. Com grama no telhado, essas casas são construídas para oferecerem melhor proteção térmica em climas severos.
Dia 2: onde comer em Reykjavik
No dia seguinte, um amigo que vive em Reykjavik passou para nos buscar nas Volcano Huts e partimos com destino à capital islandesa. Chegamos durante à noite e saímos para provar a comida local. Primeiro, nos aventuramos no famoso cachorro quente islandês, considerado o melhor do mundo (sinceramente, para quem vem da Alemanha a salsicha não é nada demais; para quem vem de São Paulo, faltou purê <3). O centrinho da cidade estava fervilhando!
Seguimos rumo à região do porto e por lá escolhemos Reykjavík Fish, um restô hipster style com todo tipo de fish and chips que você pode imaginar. Eles também vendem o hákarl, o famoso tubarão fermentado (quatro pedacinhos tipo degustação custavam cerca de 12 euros). Mas o Joseph, nosso amigo fotógrafo (para fotos inspiradoras da Islândia, siga no Insta @joe_shutter) deu a dica: no flohmarkt perto do porto, o hákarl é encontrado por cerca de 2 euros.
Reykjavik é uma gracinha. Organizada, limpa e vibrante. Seu centro ainda preserva casinhas coloridas e lembram a pátria mãe, Noruega. Tudo ali é muito intimista, pequeno e aconchegante.
Dia 3: Lagoa Jokurlsalon e a Diamond Beach
Pela manhã, pegamos o carro alugado e voltamos para o sul da ilha. No caminho, demos carona para um casal de franceses muito simpáticos até Seljalandsfoss. O plano deles era fazer a trilha de cerca de 4 dias. Ali pertinho da Seljalandsfoss existe uma trilha que leva ao alto da cachoeira e de onde se tem uma vista muito bonita!
Seguimos para a Lagoa Jokurlsalon e para a Diamond Beach. Esse é definitivamente o passeio que você não pode perder na Islândia.
Os highlights da Ring Road
De Reykjavik à Lagoa Jokurlsalon são cerca de cinco horas de viagem na Ring Road, a principal rodovia que liga as cidades da costa do país formando, adivinhe só, um anel. Não faltam cachoeiras, vulcões, campos de lavas e geleiras para admirar no caminho. E apesar de tudo isso ser incrível, a Lagoa Jokurlsalon que repousa na base do Vatnajökull, maior glacial da Islândia (ele cobre 8% do país!), coloca todos os outros passeios em perspectiva.
Sinceramente, é uma das paisagens mais maravilhosas que eu já vi na vida. Ali, focas brincam em meio ao gelo e o silêncio impera. O vulcão adormecido, o gelo que flutua sobre a lagoa, o barulho da natureza em atividade… Tudo isso lembra o quão pequenininho a gente é.
Na lagoa há empresas que oferecem passeio de barco, mas eu sinceramente acho uma tremenda invasão. Os barcos quebram o silêncio do lugar. Ali as coisas são bonitas como são, sem interferência humana.
Outro detalhe importante é que a Islândia não cobra a entrada na maioria das atrações naturais. Os vulcões, geleiras, cachoeiras e lagoas estão ali, expostos para quem quiser desbravar. A população ganha dinheiro com serviços de hotéis, restaurantes, passeios… Mas, olha, a dona do negócio ainda é a natureza.
O povo islandês tem uma relação muito próxima com a natureza e com a terra onde vivem. Há um respeito e a consciência de que tudo é mutável. Os diversos campos de lava estão ali para lembrar isso. A História existe para nos lembrarmos disso.
Do outro lado da pista está a Diamond Beach, uma praia de areia negra vulcânica onde pequenos cristais refletem a luz do sol. Coisa linda, gente. Por ali as focas também recebem os visitantes com brincadeiras no oceano gelado. Ficamos algumas horas admirando a paisagem – e mais nada.
Então quando a noite começou a cair, partimos para o Parque Nacional Skaftafell, onde armaríamos nossa tenda.
Dia 4: Skaftafell e a trilha para o glacial
Pela manhã, fizemos a trilha para visualizar o glaciar do alto. No caminho, havia mais uma bela cachoeira.
Pegamos estrada rumo ao Golden Circle, rota turística mais conhecida do país. No caminho, parada para tentar avistar lundis (puffin, em inglês, ou papagaio-do-mar, na língua de Camões) no farol. Sem sucesso. Mas encontramos ovelhas simpáticas beirando o precipício beira-mar e a visita valeu a pena.
Chegamos só a noite no acampamento Skjol, no Golden Circle. Montamos nossa barraca e jantamos uma deliciosa pizza no bar super agradável do lugar. Diferentemente da maioria dos lugares, o bar do Skuggi não fechava às 20h mas às 23h! Ponto para eles.
Dia 5: Golden Circle e Lagoa Secreta
Enfim, o último dia de nossa passagem relâmpago na Islândia. Visitamos a bela cachoeira Gullfoss e os gêiseres. Após tanta correria, já era hora de relaxar um pouquinho. Pulamos outros pontos turísticos do Golden Circle, como o Parque Nacional Thingvellir, onde está o encontro das placas tectônicas da Eurásia e América do Norte.
Seguimos para a Lagoa Secreta, localizada em Flúdir, uma alternativa mais interessante que a badalada Blue Lagoon. Bem, mais interessante por dois motivos:
Blue Lagoon x Secret Lagoon: qual é a melhor?
- Criada em 1891, a Secret Lagoon é a primeira piscina da Islândia. É também uma experiência mais autêntica do que sua irmã rica, na minha opinião. Ali, a água que sai de vários pontos geotermais esquenta os visitantes com temperaturas que variam de 38 a 40 graus. O chão da piscina e ao seu redor foram construídos com pedras da região. Ali ao lado, um pequeno gêiser entra em ebulição a cada cinco minutos. A Blue Lagoon, por sua vez, é uma experiência para quem procura luxo, com bom restaurante e tratamentos de spa.
- A Lagoa Secreta é mais barata do que a Blue Lagoon, tem menos turistas e é mais intimista.
E o que perdemos na Islândia…
Todo o resto – que não é pouca coisa. A Islândia é um país onde a expressão “pegar a estrada” significa que provavelmente você verá as paisagens mais bonitas da sua vida. Dificilmente um viajante com poucos dias no país verá todos os destinos que o lugar oferece, porque eles são muitos.
Aliás, muita gente passa cerca de uma semana em apenas uma trilha. Outras pessoas se arriscam em percorrer o país inteiro pela Ring Road em cerca de 10 dias (são cerca de 500km dirigidos por dia). Esse é o mínimo viável, eu diria. Pode ser uma boa ideia para quem quer ter uma noção de como as paisagens variam na ilha.
No final de contas, eu acho que a Islândia é o tipo de lugar que vale várias viagens. Em um roteiro de 5 dias na Islândia é possível ver o principal, mas muita coisa interessante ainda ficará de fora. Ainda quero ver a aurora boreal no inverno, conhecer os fiordes do oeste e o norte do país. Afinal, viajar a conta-gotas também pode ser uma ótima ideia!