Há quase um mês a viagem começou. Depois da Espanha, dei uma passadinha rápida em Portugal e sigo agora na Alemanha. Por aqui, tenho me questionado sobre a importância da paixão (alô, inteligência emocional?). Saí de casa com aquela vontade de mergulhar em algo novo e aprender um milhão de coisas. Deixei minha rotina de lado – odeio rotina mesmo – para tentar me reinventar. Sem prazo para acabar. Vida, aqui estou! Mas muito mais do que a arquitetura, a arte e a gastronomia de cada lugar, o que tem me cativado todos os dias é viver de um jeito muito diferente do meu.
Gosto de viver apaixonadamente. Demais! E foi aí, saltando de pára-quedas em um lugar novo, que toda a minha latinidade esbarrou em uma alma germânica. Dessas que é direta, controlada, fala baixinho (quando fala alemão) e parece uma enciclopédia viva. Divide o mundo em sim ou não, em pode ou não pode, em deveres, metas e projetos. Não é como se toda e qualquer forma de sentimento fosse colocada em uma planilha e tivesse um resultado definido, não. Nada disso! Mas é como se tudo fosse sensato. Até na forma de sentir.
Eles falam olhando nos olhos. Eles olham nos olhos o tempo todo. Caminhando pela rua pode ser que, quando um alemão cruzar contigo, você tenha a sensação de que existe alguém esmiuçando a sua alma só pelo olhar. Em cinco segundos. Tipo raio-X. E almas apaixonadas não entendem muito bem como tudo isso acontece, admito.
Alemães são sinceros. E, nossa, como a verdade pode ser algo duro de lidar! Eles sentem, eles pensam, eles guardam. E aí, creio eu, categorizam. Posso estar muito enganada, mas sinto (olha eu sentindo de novo!) que eles têm muito mais a ver com filosofia do que com romance. Na arte, são genuinamente Bauhaus.
Se você perguntar, espere a verdade. Se não perguntar, também. Eles convivem o tempo todo com essa belezinha – assim mesmo, como ela é. Se for fria e feia, tudo bem.
Hoje, enquanto me olhava despretensiosamente no espelho alemão, ele disse:
– Você é vítima do coitadismo.
QUÊ?! Vamos com calma, por favor.
E, em seguida, explicou:
– Mariana, você reclama mas não busca encontrar uma solução para o problema. Reclama por reclamar. E não muda porque não quer.
Ah, querido espelho! Sei que falar em caps lock não resolve os problemas do mundo, muito menos os meus. Mas às vezes é só uma forma de se expressar. Uma forma INTENSA e EXAGERADAMENTE apaixonada de se expressar.
Mas, olha, você tem razão, espelho meu. Estou acostumada a viver essa paixão toda em vão. De que vale uma paixão se tudo continua sempre igual?
Mudar não é só sair do lugar.