A:— Mariana, existe algum país que você não visitaria?
M: — Não! :)
E foi assim que começou a programação feita pelo namorado para meu aniversário, em junho. Ele decidiu que faríamos uma viagem surpresa – e que eu só descobriria o destino no aeroporto! No portão de embarque, descobri que iríamos para o Líbano. Mas, bem, o que eu sabia sobre esse país?
1. Que o Líbano é o lar de muitos refugiados sírios.
2. O país convive com a guerra ali do lado e, muitas vezes, dentro de casa.
3. Que a comida é uma das melhores que existe.
Em outras palavras, tudo o que eu sabia sobre o Líbano eu havia visto na televisão, lido em jornais ou provado em restaurantes árabes.
Sem a (minha) leitura prévia de guias de viagem, chegamos (ele, três amigos e eu) às 3 horas da manhã em Beirute. No aeroporto, esperavam por nós dois rapazes do Rotaract (clube em que jovens se reúnem para fazer atividades sociais). Descobri que íamos, enfim, para um encontro do Rotaract dos países do Oriente Médio. Por lá, gente da Turquia, Líbano, Síria, Jordânia, Egito… Esse contato rápido proporcionou algumas situações interessantes que marcaram a viagem.
1. Viajar no Líbano é seguro?
Durante o trajeto até o hotel, perguntei para o rapaz libanês se Beirute era uma cidade perigosa – afinal, eu sou paulistana e toda vez que o carro pára no semáforo de madrugada lá vem o medo de uma arma apontada na cabeça. Ele respondeu:
— Não! O país vive uma relativa paz desde 2012.
— Ah, não foi isso que quis dizer, respondi. Na verdade, minha pergunta era sobre assaltos à noite!
— Não, não. É muito seguro andar à noite pelas ruas. É claro que acontecem casos de roubo e outros tipos de violência, mas são casos isolados.
E aí eu me coloquei em meu lugar. Essa violência que matou um amigo com um tiro na cabeça e deixou meu primo tetraplégico não faz parte do dia a dia de quem vive ali, a 50 quilômetros da guerra. Foi o primeiro tapa na cara que o Líbano me deu.
Alguns dias após nossa partida, houve um atentado no centro de Beirute. Mas o mesmo tem acontecido em alguns lugares da Europa. Semana passada foi em Nice, hoje foi aqui na Alemanha. Não devemos abaixar a cabeça para a violência, deixar de viajar ou de sair de casa por causa do medo. E, sinceramente: se você é brasileiro a violência não é um motivo para você deixar de visitar o Líbano (em tempos de paz, claro). Se você não vive em uma bolha, infelizmente está acostumado com coisas muito piores.
2. A liberdade é uma criança
As pessoas que moram no Líbano são extremamente gentis e orgulhosas do próprio país. O Líbano… Tão pequeno e tão cheio de vida! E com tantas histórias. Em um passeio, conheci um antigo colega do meu namorado que levava a sua filha de poucos meses no colo. Perguntei o nome da criança e ele respondeu “Azadî“. “É um nome árabe?”, questionei. “Não. Significa liberdade em curdo“, disse ele. Uma criança chamada liberdade. Não pode existir nada mais bonito que isso. Pode?
As histórias interessantes não paravam aí. Muitas pessoas do grupo trabalhavam na fronteira, outras viajavam diariamente para a Síria. Alguns eram refugiados sírios. Se aproximar de pessoas que vivenciam a situação é a melhor maneira de entender o tamanho do problema e perceber que uma guerra não é sobre estatísticas, mas sim sobre vidas como a minha e a sua. Sobre amigos que você faz no caminho.
3. Vida noturna de dar inveja
Quando descobri que viajaríamos para o Líbano, a primeira referência que me veio foi o Egito. Afinal, os países tem muito em comum, certo? Errado. O Líbano é um país extremamente ocidentalizado. Muitas pessoas falam três línguas: árabe, inglês e francês – o sistema de ensino deles, aliás, é americano ou francês. As mulheres são muito ligadas às tendências de moda e maquiagem e as festas são animadíssimas. Em Beirute, além das baladas, há muitos beach clubs, com pool parties que duram o verão todo. Uma delícia!
4. Custo-benefício de viajar no Líbano
Se você pretende viajar no Líbano, prepare o seu bolso. O país não é barato, mas os problemas não páram por aí. O Líbano é conhecido pelas suas montanhas e morros e isso interfere muito no tempo que você passa em trânsito de um lugar para outro. Não é raro você demorar três horas para chegar em um ponto turístico que fica há alguns poucos quilômetros de onde você está. Isso porque praticamente todas as ruas de Beirute, por exemplo, estão em morros com estradas cheias de curvas.
É bom saber: o transporte público é praticamente inexistente. Os motoristas de táxi preferem deixar para depois a amizade com os turistas e podem cobrar até três vezes o valor da mesma corrida que cobrariam normalmente. Assim como no Egito, a regra número 1 é dizer “moço, você poderia ligar o meter, por favor?” assim que entrar em um táxi. Se o motorista não quiser, bem, tem quem queira! Uma boa solução para a falta de transporte público no Líbano é alugar a diária de um taxista – dependendo do seu roteiro e do número de pessoas que fará o passeio, pode sair mais barato.
Ah, os serviços são tão caros quanto os serviços oferecidos em cidades européias. Quer ver? As comidas em uma feirinha de rua que fomos no centro da cidade custavam cerca de dez euros (ou quarenta reais), por exemplo. Resumindo: viajar com orçamento limitado no Líbano pode ser bem complicado.
É bom estar preparada!